sábado, 23 de agosto de 2014

Ovídio leu Virgílio


Virgílio conhece o amor. E ele sabe que a paixão tem movimentos indiretos e silenciosos. Para o apaixonado, ser claro é ser extremamente sem graça.

Não existe paixão sem espera, sem o furto da surpresa. A claridade incomoda os olhos e o coração. Por isso, o apaixonado está no breu, esperando.

Sobre todas as coisas Virgílio entende, mas sabe mais sobre o incêndio, que surge da fagulha. Sentamos e pedimos por fogo contra o frio das coisas óbvias. Pedimos e pedimos, apenas por uma prece, porque da boca não sai nada além de suspiro.

Nós, apaixonados, gostamos da poesia, que é o cadeado das razões. É o deposito da vida nas entrelinhas seguras de um poeta atormentado, mas esperançoso. Estar apaixonado é pedir, silenciosamente, para ser solicitado; e sofrer por não ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário