quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O dálmata não está na gola

Vangloriar-se por vestir uma camisa com um jacaré costurado na camisa é o mesmo que orgulhar-se por andar com uma manga rosa amarrada no joelho. 

Se a cúpula da moda quiser impor o acessório da fruta, basta investir em propaganda. Com o tempo, o povo acreditará que é sedutor ter fiapos de manga escorrendo pelas canelas. 

Pessoas que se acham superiores por causa do animal que cuidam na camisa pólo deveriam perceber que são adestradas por homens mais ricos. Talvez, assim, fossem mais humildes.

As pessoas são essencialmente carentes. Querem ser amadas. Mas elas não querem confessar a carência, e aceitam dizer que querem, na verdade, reconhecimento. 

Dá no mesmo: somos bebês pedindo carinho. Precisamos de elementos de distinção: serão responsáveis por recebermos mais afagos. 

É justo recebermos mais, se fizermos mais pela sociedade. Isso é inegável; como é também saber que essa regra é comumente desrespeitada. 

Então é racionalmente normal afirmar que quem pode comprar mais não é melhor, necessariamente, que quem pode comprar menos. 

É por isso que o elemento das camisas não vale nada: ele é mentiroso. Diante da marca, o homem ainda tem que provar o seu valor. 

Nosso caráter não depende da pelúcia. Cavalo com homem em cima segurando taco, jacaré de linguinha pra fora, pardal voando, rinoceronte comendo pitanga… Gosto muito dos animais, mas, nesse caso, respeito não é questão de zoológico.

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