quinta-feira, 31 de julho de 2014

Inspirado pela 17 de agosto


Em quase todo carro há crucifixo pendurado. Mas, mil ou importado, o destino é o sinal: vermelho. E quando não há semáforo, tem parachoque, um atrás do outro. Mas parar tanto não é tão ruim: serve para orar. Talvez, por milagre, ande. 


Há quem gaste o preço de casa por um velocímetro. Mas a Rui Barbosa é dormitório. Tudo bem: carro caro deve ser confortável para cochilar. Mas não sei: tenho a impressão que o Ortobom é mais aconchegante; também parece mais barato. 

Recife é bíblico; mas nenhum Porsche é Moisés. Se houve mar, há carros. Eu quero fugir, mas a buzina não tem o mesmo poder que o cajado. Sendo assim, sou espécie de ateu: não dá mais para acreditar nesta cidade. Isso não é questão de motor, mas de fé. Pelo menos até que o trânsito me prove o contrário.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

"A moralidade que eu defenderia não consiste simplesmente em dizer aos adultos ou aos adolescentes: ‘Siga seus impulsos e proceda como bem entender’. É necessário haver consistência na vida; é necessário haver um esforço contínuo direcionado a finalidades que não são imediatamente benéficas nem atraentes em todos os momentos; é necessário ter consideração pelos outros; e deve haver certos padrões de retidão. [...] A primeira coisa que deve ser assegurada é que haja o máximo possível de amor profundo e sério entre um homem e uma mulher, envolvendo a personalidade de cada um deles como um todo e levando a uma fusão por meio da qual os dois se enriqueçam e se aprimorem (...). A segunda coisa importante é que haja o cuidado adequado das crianças, tanto físico quanto psicológico.”. Bertrand Russel

terça-feira, 29 de julho de 2014

Isso não é uma generalização

Esquerda e direita serve lá no Código de Trânsito, não na política brasileira. Não existe essa coisa de partido defender bandeira (valores). Porque não há político forte que tenha valores. É atributo dos perdedores.

Política brasileira é conveniência: manutenção do poder dos que estão com ele. Vale tudo.
Por um empreguinho para o filho; apartamento no Leblon; fazenda em Minas Gerais; trocado bom na Suíça. Esquerda e direita vai o povo, sem saber para onde ir.

A forma parece simples. Pesquisas dizem o que o povo quer - serão os valores defendidos, mas só na campanha.  Porque, eleitos, há perda de memória. Tem sido tudo propaganda; enganosa.

Fui ao calçadão correr. Não corri. Não tinha calçadão. Tinha placa. Muita placa de um rosto só. De alguém que quer fazer parte do comando da República, mas que não sabe, ou não liga saber, sobre o conceito de coisa pública.

Quem ganha é o centro: sinônimo de bagunça, confusão, indefinição. Vai para o centro tudo que a maioria quer. Acaba sendo caldeirão: tem paio, feijão, laranja. Se brincar, até camarão. 

Vejo contracheque de professor público e a única direção que quero ir é: para longe. Direita, esquerda, centro. Centro, esquerda, direita: isso não é política; é tipo ruim de maracatu. Porque não é arte, nem cultura. É feijoada que só come barão: morador lá do planalto central.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Amigos


Amigo é órgão fundamental do corpo. Não dá para dizer que sou sem incluí-lo: não existo sem coração. Aos meus amigos devo dar a vida; porque a minha é dada por eles. 

Se um dia errei com ele, Deus, me dá a terapia: mais perdão; mais amigo.Porque acontece o corpo adoecer, mas a felicidade tende a restabelecer. 

E é assim viver com bons amigos: é ir-se curando pela vida; com o único remédio de bom sabor. Deus, tenho um outro pedido: me mantém em justa forma, que é viver com eles

domingo, 27 de julho de 2014


Isso não é um equilátero. 

sábado, 26 de julho de 2014

Se é preciso alguenizar

Tempo é meio cruel. Não dá para ler sobre ele e o vento, em Érico Veríssimo, enquanto se dá atenção a alguém. É incompatível a boa solidão, de descanso, com os diálogos vivos. Ou fico com o livro, ou com a pessoa. 

Se dizem, em física, dois corpos não habitarem o mesmo lugar, fica melhor assim: duas pessoas não moram no mesmo minuto. 

Mas há dia de sol e de chuva. Tempo para tudo, dizem. Por isso que é só meio cruel; não todo. É um pouco gente. Nos tira, mas dá também. Vida boa é de indas e vidas. O minuto levou; trará de volta. 

E se é assim, não tem aperreio. Tenho poltrona: para os dias nublados. E janela, para as visitas do sol. Não importa o que cabe no tempo. Há mais valor no sorriso. Deve ser permanente; esperando ou recebendo. 

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Bigodaço


Em seis minutos eu mal faço um miojo. Nem consigo completar a retirada da minha barba. Suspeito que Felipão, em seis minutos, não consiga capinar o bigode. Mas em seis minutos constrói-se um hexa. Ele veio - do cronômetro e da defesa. Seis minutos de um time só: dos vinte e três aos vinte e nove do primeiro tempo. Ao todo, um hexa de diferença no placar.

Segurança, educação, saúde, higiene, transporte, ordem - a Alemanha deve ser seis vezes melhor que o Brasil. E hoje foi no futebol. O que resta para nós? Tapioca na sé? Acarajé na Fonte Nova?

Em seis minutos o facebook produziu todas as combinações possíveis de piada. Quase igualou a força do ataque alemão em eficiência; e da defesa brasileira em desespero. Tenho mais nenhuma; por falta de criatividade e obediência. Porque dizem que alemão fala latindo. Pois bem, latiram e assenti: pus o rabo entre as pernas e fui ao silêncio recolhido. 

Se é a copa das copas, não sei. Mas foi a maior humilhação da história delas. Alemanha sofreu com Gana, EUA e Argélia. O Brasil apareceu para bagunçar a tendência - de que a Alemanha estava prestes a cair. Mas confirmou outra: o da nossa seleção era cambalear.

A tragédia anunciada pela bola chutada pelo Chileno, no finalzinho das oitavas, serviu de profecia: o destino da canarinha era chão; de joelhos e de choro. Foi pena ter uma trave no caminho: ficasse nas oitavas e mudaríamos o verso - não havia trave; não havia trave no caminho. Pior foi ter nele os alemães, contemplados por um grande bigode no banco de reservas.

domingo, 6 de julho de 2014

sábado, 5 de julho de 2014

Grande área e o hexa

Habitaram a grande área: Romário, Ronaldo, Edmundo, Pelé, Zico. A melhor seleção do mundo sempre gostou de conquistar esse terreno, porque é o mais valorizado: garantiu cinco taças.

Perdemos os nossos erres; Edmundo deve, hoje, gerenciar canis de pitbull. Pelé vive de Rei: sentado, falando besteira, com coxa de galinha na mão e, por tudo isso, fica mais rico. Já o galinho faz terapia: ajeitar o Flamengo é coisa de divãs.

Tudo que pensamos é: o hexa parece um fracasso que corre em anúncios; distribuídos por alemães em sinais de trânsito. Mas é mentira que nossos gênios, hoje, estão só nos camarotes da história.

Esquecemos: craque não é qualidade de um só tipo de terreno. Temos os melhores zagueiros do mundo. David Luiz só não é leão porque nunca vi um de cabelo cacheado, nem um que usasse bobs. Thiago Silva chora, é verdade; mas faz chorar os atacantes, que não são os nossos.

Fred, sujeito maduro, cultivador de bigodes, tem sabedoria e profetiza: Thiago Silva e David Luiz são craques e também habitam a grande área; só não é a do adversário (embora às vezes curtam uma visita). O Hexa virá, lá da defesa!

sexta-feira, 4 de julho de 2014

O desenho, um amigo mentiroso e a navegação

Se ponho no papel três rabiscos mal feitos, dependerá se é uma casa feita por criança do maternal ou a reprodução fiel do trabalho de Michelangelo na Capela Sistina. Quem dirá é o julgador. Um bom amigo escolherá a segunda opção.


Um amigo é sempre sincero; não nego. Mas a verdade que interessa é a intenção. Se ele disser que meu desenho é ruim, nunca mais desenharei. Mas se diz que é bom, mesmo não sendo, continuarei; um dia será. A verdade de um amigo é o suporte que ele dá; sobre a necessidade de seguir em frente.

Disseram: “Navegar é preciso. Viver não é preciso”. Viver é aventurar-se, quebrando a cara, sem que se saiba descrever o que é a exatidão de uma conduta. Porque a vida não oferece fórmulas; viver é vivendo. O amigo sabe disso e diz: seu desenho é bom, e melhorará!


Se o mundo não admite descrição exata, ele é mesmo uma mentira por definição. O trabalho do amigo é apresentar só outra versão: navegue; navegar sempre é bom, porque é teu o mar. Três rabiscos sem talento, se teimosos, fazem terra de altos coqueiros. Diante de um desenho ruim, o amigo diz: bonito, porque aperfeiçoará!


O amigo mente tipicamente: é uma mentira com vencimento, porque ela amadurece e um dia é verdade. Se o desenho é ruim, nem sei eu, nem sabe ele. Mas ele, conhecendo minha vontade, fica perto de desenhar por mim, quando mente: é obra de arte!


É por isso que a dedicatória deveria chamar-se título: quem faz, finalmente, o bom desenho, não é a mão do desenhista, mas do amigo que ditou as normas: continuar, continuar, continuar!

terça-feira, 1 de julho de 2014

Parar de seguir, tolerância e o Auto da Compadecida

Há tempos eu costumava parar de seguir quem postava coisas que me desagradavam, porque me irritava com elas. Hoje, não mais. Viver em sociedade é exercitar a tolerância - o melhor dos freios contra as agressões, físicas ou verbais. 

Tolerar significa perceber que o centro da órbita não é o nosso umbigo; existem pessoas lá fora, com as mais diversas preferências, muitas vezes diferentes das nossas. Mas não é porque alguém gosta de amarelo, e eu prefiro azul, que devo ignorá-la. Se gostar de algo só atinge quem exercita o objeto do verbo, por que deveria me incomodar com isso? 

Atualmente, se compartilham algo que julgo ser desagradável ou impertinente, lembro logo quantas bobagens eu já devo ter dito; quanta besteira já devo ter compartilhado. Lembro, também, quantas vezes mudei de opinião - mesmo em curtíssimos intervalos de tempo. 

A verdade não pertence a mim, mas às circunstâncias - mutáveis por definição. Ela não aceita o radicalismo de uma conduta imposta rigidamente; tudo depende. Se assim é, por que deveria eu condenar se alguém não consegue defini-la - que é o mesmo que tentar contar, a olhos nus, as batidas de asas de um beija-flor? 

Toleremos. Se alguém um dia errar, me parece razoável perceber nossa própria incapacidade de definir o que é realmente certo. Essa disposição humilde (aceitar que não sabemos tudo) ajuda a identificar o quão imprecisa é a condenação da conduta de alguém. 

Diante do palavrão, bom mesmo é refletir sobre a razão de ter sido dito - talvez porque quem agride, primeiro, sofre. Se o objetivo foi fazer graça, lembro que Ariano Suassuna nunca precisou de um para ser engraçado, o que me faz querer ler, de novo, o Auto da Compadecida.  E assim confirmo que tolerar é a melhor via - faz-se do palavrão um bom aprendizado; sobre as causas de uma dor, sobre as origens da piada.