segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

João e Maria


(Marilyn Silverstone)

Nomeio o casal de João e Maria, que se deixava passear naquele catamarã. Era um evento sem programa, decidido sem horas contadas. Queriam ir e foram. Essa é a direção dos apaixonados. Não sabem do relógio e ignoram a ponta da bússola. De mãos dadas, vão. 

João disse uma frase que lera: “O beijo é o ponto róseo da palavra amar...”. Sim, ele citou um poeta de nome esquecido. Mas queria dar um conserto. Interrompendo o sorriso dela, continuou, mas disse nada. Aproveitou o anúncio de um arco, porque receava perder aquele intervalo. Foi debaixo de uma das pontes recifenses, sobre o lençol balançado das ondas, que redescobriu os lábios donos do mundo. Aquele beijo era o ponto sombreado da palavra nervosa. 

Maria lembrou. Corriam os dois ao encontro das plantas. Ela à frente, querendo ser pega. João fingia a pressa dos passos, porque gostava daquela fuga dissimulada. Aos quarenta ou aos treze, a cidade inteira vestia-se de praça. Um balanço, uma fonte, um barquinho de papel. João e Maria estavam abraçados pela mesma calda da brisa, brincando lá fora. 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Trabalho

(Erich Hartmann)


Ganhar mais e trabalhar menos, que é o que todo mundo quer. Ouvi isso hoje de um engravatado, sorrindo e sustentado em seu Mont Blanc. Eu queria fazer parte de um mundo onde as pessoas dissessem: trabalhar mais e ganhar o justo, que é o mais saudável. E elas poderiam dizer apoiadas na nudeza da honestidade. 

As pessoas não percebem que é bom trabalhar por prazer. E que se você trabalha por prazer, se empenha muito mais. Estuda muito mais. E logo chega à conclusão de que trabalhar por prazer significa ter facilidade em alcançar um nível de excelência. Ser feliz é o que todo mundo quer. E ter alguém capacitado é tudo que o mercado deseja. O dinheiro seria um grande acidente!

Não sei se por preguiça, se por ignorância. Talvez pelos dois. O senso crítico tornou-se algo raro. As pessoas simplesmente aceitaram que trabalhar é sinônimo de sofrimento. E sofrem a vida inteira, buscando compensar a infelicidade com a aquisição de bens materiais. Eu quero minha ordem invertida: guardo os relógios e mantenho a teimosa paixão pelo ofício.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Bonança



Passado o reveillon, não veio a bonança. Bastaram alguns dias pra tudo bagunçar: sem exercícios físicos, sem estudo e sem muitas atividades produtivas. Às vezes é irritante como é fácil quebrar um hábito.

Uma meta requer controle ininterrupto. E aqui estou eu, recolhendo os destroços. Passadas as festas do final do ano, a sensação é de ter passado um furacão nos meus objetivos. Posso até ver uma planície de destroços: um pedaço da minha agenda ali, outro longe; um livro aqui, outro ali. A esperança parece deslocada da motivação.

Mas será mesmo que não veio a bonança? Agora, enquanto escrevo, não já está tudo mais calmo? Verdade que vejo o desastre, mas já acontecido. O mar parece perfeitamente gentil. Algo está bem definido no horizonte, novamente. Perdi alguns dias. Mas não liberto o desespero. O caminho é mesmo assim: uma constante recolhida de cacos.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Seleção da semana

Outro grande fotógrafo da história: Robert Doisneau!